Acompanhe por aqui relatos e experiências registrados durante a produção da exposição.

Mesa redonda: a contribuição da universidade no futuro do nascer no Brasil

Na programação da Semana Internacional de Redução da Morte Materna, ontem na Exposição houve uma mesa redonda sobre “A contribuição da universidade no futuro do nascer no Brasil: o papel da UFMG”.

Estavam presentes vários convidados, de diferentes áreas do conhecimento:

  • Juliana Barra (vice-chefe do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG)
  • Maria Cândida Bouzada (neonatologista e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG)
  • Bernardo Jefferson de Oliveira (professor da Faculdade de Educação da UFMG e coordenador geral da Sentidos do Nascer)
  • Kleyde Ventura (professora da Escola de Enfermagem da UFMG, na área de enfermagem obstétrica).

Abriram a conversa Ana Laura Rabelo, da Liga Acadêmica de Saúde Coletiva da UFMG (LiASC), e Sonia Lansky, pediatra e coordenadora geral da Sentidos do Nascer, com a proposta de debater as perspectivas de mudança do modelo de atenção obstétrica e neonatal, para redução da morbimortalidade materna e infantil no país.

O Brasil vive atualmente um “paradoxo neonatal”, no qual, apesar da melhoria do acesso aos serviços de saúde, a qualidade da atenção persiste como um problema, com um excesso de intervenções no parto, que repercutem sobre a saúde da mulher e do bebe. As taxas elevadas de mortalidade materna são um reflexo deste problema. O excesso de cesarianas desnecessárias por um lado, e a não implementação de práticas baseadas em evidências no parto vaginal por outro, impõem riscos adicionais, até mesmo anulando a melhoria no acesso aos serviços de saúde alcançada nas últimas décadas.

Alunos de Medicina, da UFMG e da Faculdade de Ciências Médicas, também estavam presentes e relataram suas vivências nas escolas. Falaram sobre a dificuldade que enfrentam para abordar o tema do parto normal e da violência obstétrica que observam nas práticas dos hospitais. Discutiram também a dificuldade de reportar suas observações críticas às práticas aos professores e coordenadores dos serviços, principalmente por se sentirem inibidos e constrangidos, pelo fato da relação professor-aluno ainda ser verticalizada e hierárquica.

Colocaram que os alunos aprendem, nessas faculdades, uma visão limitada da assistência ao parto e nascimento, pelo fato dos livros textos indicados ainda serem desatualizados e de a formação ser muito professor-dependente. Assim, chegaram à conclusão que é importante o aluno ser sensível e questionar as más práticas que presencia. Mas, mais do que isso, a universidade precisa estar atualizada às recentes evidências científicas (nos conteúdos teóricos e nas práticas assistenciais) e tem o papel de “provocar”, instigar e trazer o aluno para esse nível do conhecimento.

Os professores apontaram que, paradoxalmente, a universidade é muitas vezes uma instituição tradicional, lenta para a incorporar mudanças, acompanhar a dinâmica da produção do conhecimento e está muitas vezes atrelada a relações de poder, concentradas em titulares, catedráticos – em “eminências” e não exatamente em “evidencias”. Muitas vezes não acompanha as demandas e urgências sociais, como no caso da saúde materna e infantil.

Foi também colocado com um obstáculo à implementação das boas práticas o fato do ensino e da prática obstetrícia, neonatologia e enfermagem obstétrica estarem separados, o que repercute em uma prática fragmentada, quando deveriam atuar conjuntamente. O trabalho integrado é apontado na literatura como um elemento crucial para o alcance de melhores resultados para a mulher e para a criança.

Outro aspecto abordado foi os processos automatizado e padronizados do cuidado, que não consideram a singularidade dos sujeitos, e que é reproduzido no ensino. A humanização da assistência é pouco abordada ou de forma inadequada, e muitas vezes é tratada de forma pejorativa e desqualificada como “modismo” ou “movimento radical”. No entanto, significa resgatar e recolocar o protagonismo da mulher no parto e nascimento, com práticas que favoreçam a autonomia para uma experiência mais positiva.

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A roda encheu!

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Professora e neonatologista Maria Cândida Bouzada

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Juliana Barra, professora e vice-chefe do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia

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Kleyde Ventura, professora da Escola de Enfermagem

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Professor Bernardo Jefferson, da FaE e coordenador geral da Exposição Sentidos do Nascer

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Ana Laura Rabelo, da LiASC – UFMG

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Gabriel, aluno da FCMMG e da DENEM, contando suas experiências.

 

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